Dr Rafael Augusto Souza

Entenda os riscos e diferenças das 2 doenças. Saiba como se prevenir do câncer, e quando procurar um médico especialista no tratamento dessas doenças.
Dr Rafael palestrando sobre Câncer de Ovário no Congresso Brasileiro de Câncer na Mulher e Oncoginecologia: mesa de debate com convidados internacionais

O que é Cisto de Ovário?

Os ovários são os órgãos reprodutivos das mulheres. Eles são responsáveis pela produção de óvulos e hormônios sexuais femininos, o estrogênio e a progesterona.

Cistos são tumores em formato de bolhas contendo líquido no seu interior e revestidas de epitélio. No caso do cisto de ovário, essas bolhas se formam no ovário ou sobre ele. A maioria dos cistos de ovário é benigna (ou seja, não é câncer) e desaparece com o tempo. Por isso não é incomum um exame de imagem (uma ultrassonografia, por exemplo) mostrar um cisto em um ovário e depois um novo exame da mesma paciente não mostrar cisto nenhum.

Existem vários tipos de cistos de ovário:

  1. Cistos funcionais: são benignos e os mais comuns. Se formam durante o ciclo menstrual. Existem dois principais tipos:
    Cisto folicular: quando o folículo não libera o óvulo e continua a crescer.
    Cisto de corpo lúteo: forma-se depois que o folículo libera o óvulo e começa a se encher de líquido.
  2. Cistos dermoides: também chamados de teratoma maduro. São na maioria das vezes benignos e contêm tecidos como cabelo, dente ou pele. Podem crescer e causar desconforto.
  3. Cistos endometriomas: associados a Endometriose, uma doença muito associada a dor intensa principalmente durante a menstrução e casos de infertilidade. Apesar disso, são cistos benignos.
  4. Cistoadenomas: se desenvolvem a partir do ovário e podem ficar grandes. Contêm líquido mas, muitas vezes, muco. São cistos benignos.

SINTOMAS DO CISTO DE OVÁRIO

A maioria dos cistos de ovário não causa sintomas e desaparece sozinha. No entanto, cistos muito grandes ou que se rompem podem ou não causar:

  • Dor abdominal ou no baixo ventre;
  • Inchaço ou sensação de pressão no abdômen;
  • Dor durante relação sexual;
  • Menstruação irregular;
  • Problemas de fertilidade.

Se o cisto causar dor intensa, febre, vômitos, pele fria e úmida, respiração rápida e tontura, procure atendimento médico imediatamente, pois pode se tratar de uma emergência.

DIAGNÓSTICO

Cisto de ovário

A maioria dos cistos é diagnosticada em exames de imagem de rotina, ou exames para investigação de outras doenças. Ultrassonografia, tomografia e ressonância magnética são os principais exames que detectam esses cistos. Algumas alterações em exames de sangue também podem levantar suspeita (como alterações hormonais), mas o diagnóstico de cisto se dá por imagem.

O diagnóstico de benignidade (ou não) só pode ser dado durante ou após uma cirurgia.

TRATAMENTO

Depende das características do cisto e da paciente, afinal de contas cistos com as mesmas características mas em pacientes com idades ou históricos diferentes podem ser tratados de forma também diferente.

  • Observação e acompanhamento: muitos cistos desaparecem por conta própria
  • Medicação: pílulas anticoncepcionais podem impedir a formação de novos cistos em ciclos menstruais futuros
  • Cirurgia: cisto associados a sintomas importantes, cistos muito grandes (com grande chance de torção), ou com suspeita para câncer podem precisar de cirurgia.

A indicação definitiva de cirurgia sempre deve ser dada pelo cirurgião. Ele deve ter experiência com esses casos e, preferencialmente, deve optar pela abordagem por videolaparoscopia, ou outra técnica minimamente invasiva, promovendo assim menos dor, melhor e mais rápida recuperação, além de melhor resultado estético. A maioria das pacientes recebe alta hospitalar no dia seguinte à cirurgia, podendo em alguns casos serem liberadas já no mesmo dia da cirurgia.

Dr Rafael Augusto Souza é cirurgião oncológico formado pelo INCA, e graduado em Medicina pela UFRJ. Expertise em videolaparoscopia.

E o CÂNCER de Ovário ?

O “Câncer de Ovário” é o nome que se dá aos tumores malignos do ovário (sejam eles cistos ou sólidos). É menos comum que os cistos benignos, porém mais grave. Infelizmente, a estatística ainda aponta que em 75% dos casos de câncer de ovário o diagnóstico é feito já em estágios avançados, ou seja, quando a chance de cura diminui.

Os principais tipos são:

  1. Carcinoma epitelial: cerca de 90% dos casos de câncer de ovário (onde encontramos o carcinoma seroso de alto grau, o carcinoma seroso de baixo grau, o carcinoma mucinoso, o carcinoma endometrioide, o carcinoma de células claras)
  2. Tumores de células germinativas: originam-se nas células que produzem os óvulos (coriocarcinoma, teratoma imaturo, tumor de seio endodérmico, disgerminoma, carcinoma embrionário)
  3. Tumores do estroma: originam-se nas células que produzem os hormônios (tumores da célula da granulosa, tumores de Sertoli-Leydig)

SINTOMAS

A maioria dos casos não apresenta sintomas. Quando presentes, esses sintomas são vagos, e podem ser confundidos com outras doenças. Alguns sintomas são:

  1. Inchaço abdominal ou sensação de empachamento
  2. Dor no abdômen ou no baixo ventre
  3. Dificuldade para comer ou sensação de saciedade rápida
  4. Necessidade frequente ou urgente de urinar
  5. Cansaço/fadiga
  6. Alterar a frequência das evacuações (prisão de ventre e/ou diarreia)

Na presença desses sintomas, buscar a ajuda de um profissional com experiência no manejo do câncer de ovário faz diferença no resultado do tratamento.

FATORES DE RISCO

Ao contrário do que diz o imaginário popular, entenda que Fatores de Risco não são uma condenação. São características que estão estatisticamente mais associadas aos casos de câncer de ovário. Quando evitáveis (e evitados), diminuem a chance de desenvolver câncer.

  • Idade avançada (a maioria após 50 anos de idade)
  • Obesidade
  • Sedentarismo
  • História familiar de câncer de mama ou ovário
  • Mutação nos genes BRCA 1 e BRCA 2

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico definitivo de câncer de ovário só é possível após (ou durante) uma cirurgia para remoção do tumor de ovário (seja ele cístico ou sólido), ou procedimento cirúrgico para coleta de material.

A suspeita diagnóstica pode se dar pelos sintomas, mas nesses casos é comum que a doença esteja em estágios mais avançados (o que não muda a necessidade de investigação e tratamento). Imagem suspeita em um exame (ultrassonografia, tomografia, ressonância, etc) pode ser o ponto partida para uma investigação também. Exames de sangue com o marcador tumoral CA 125 ajudam a orientar a investigação, mas valores acima do normal não confirmam câncer, assim como valores normais não descartam completamente.

Diferente de outros tipos de câncer, como mama, intestino ou colo de útero, ainda não existe nenhuma estratégia universal de rastreio que seja eficaz para detectar precocemente um câncer de ovário. Ou seja, fazer exames periódicos com testes de sangue ou exames de imagem não diminuem as taxas de diagnósticos em fase avançada de doença. As estratégias devem ser individualizadas e alinhadas entre a paciente e o médico experiente na condução desses quadros.

TIVE DIAGNÓSTICO DE CÂNCER. E AGORA ?

Sempre procure um especialista para definir o próximo passo. Não tome medidas por conta própria, nem por conselho de um leigo. Mantenha uma rotina saudável de alimentação e atividade física. Siga controlando as possíveis doença que você já acompanhava. Independente do tratamento que fará a seguir, estar o mais saudável possível agora pode ser a diferença entre um bom e um mau resultado.

TRATAMENTO

O tratamento do câncer de ovário pode envolver muitas modalidades como cirurgia, quimioterapia, terapia-alvo e hormonioterapia. O estágio da doença e seu subtipo determinam o que fazer e quando.

A cirurgia muitas vezes envolve a retirada não só do ovário afetado, mas do outro ovário, das trompas, do útero, dos linfonodos (gânglios dentro da barriga), da gordura de dentro da barriga (o omento) e de fragmentos do tecido que reveste a cavidade abdominal (biópsias do peritôneo).

Quimioterapia tem importante papel no controle de grande parte dos cânceres de ovário. Ela pode ser introduzida antes e/ou depois da cirurgia.

Terapia-alvo tem papel em casos mais selecionados. Ela funciona em alguns tipos de câncer que expressam algumas proteínas conhecidas que não são comumente encontradas nas células saudáveis. Essas proteínas são o alvo a ser atingido.

PROGNÓSTICO

Existe cura para o câncer de ovário. O estágio da doença faz toda a diferença: estágios mais precoces têm maior chance de controle e cura do que estágios mais avançados.

O fato da maioria dos casos ser diagnosticado em fase avançada faz com que o câncer de ovário seja o câncer ginecológico mais letal.

O tratamento envolve uma abordagem multiprofissional, e a experiência desses profissionais com Oncologia, inclusive o cirurgião, fazem diferença no resultado para a paciente.

PREVENÇÃO

É fundamental conversar com sua família sobre o histórico de câncer que possam ter. Essa informação deve ser discutida com seu médico para que se estabeleça o risco de você ter câncer de ovário, e assim traçar estratégias para detectar a doença, ou em alguns casos evitar a doença.

Um caso famoso relacionado a prevenção foi da atriz norte-americana Angelina Jolie. Sem diagnóstico de câncer, ela e seus médicos decidiram fazer a cirurgia de retirada completa das mamas em 2013, e dois anos depois fez a cirurgia de retirada dos ovários. Angelina tem um histórico familiar forte de câncer de ovário, e assim descobriu ser portadora de uma variante do gene BRCA1.

De fato, hoje há uma recomendação para o que chamamos de cirurgia redutora de risco, que consiste na retirada dos dois ovários de pacientes consideradas de alto risco para câncer de ovário. Pacientes com a variante patogênica dos genes BRCA 1 ou 2 podem ser candidatas a essa cirurgia. O primeiro sinal de alerta é o histórico familiar. É importante então conversar com a família e com um médico experiente no assunto.

CONTROLE OS FATORES DE RISCO.

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